Demorou algum tempo escolher qual seria o sítio perfeito para a nossa lua de mel pois há sempre entraves. Um não gosta de ir aqui, outro não quer ir ali, fica caro, não se gosta da comida, e todo o tipo de coisas afins.
Mas tínhamos bem definido que a nossa lua de mel seria passada no sítio mais especial possível, e sem intenções de voltarmos ao sítio onde fomos felizes, tal como se costuma dizer. E as Maldivas foi o conciliar de tudo o que procurávamos.
Sempre desejámos viajar até lá, e infelizmente, talvez daqui a uns anos nem exista a possiblidade para tal uma vez que as ilhas estão a desaparecer. O que significa que quem sabe, daqui a 50 anos vou estar a contar histórias aos pequenotes, em que a nossa lua de mel foi passada num país que já não existe….
Gosto sempre de pesquisar sobre o sítio para onde vamos de viagem e claro que fiz o mesmo paras a nossa lua de mel. Descobri que as Maldivas são um país muçulmano e como tal , teríamos de respeitar a cultura e religião do país.
A única coisa com que tive de me “preocupar” foi em manter os ombros tapados em lugares públicos como por exemplo no aeroporto. Dentro dos resorts não haveria motivos para preocupações. Os turistas chegam para se divertir e querem aproveitar o paraíso que aquele país oferece. E claro beber álcool, que é proibido fora dos resorts, tal como manda o Islão.
Dois dias depois do nosso casamento, viajámos de forma aventureira e atribulada até às Maldivas.
Chegámos à noitinha e ficámos alojados num hotel em frente à praia, na capital Malé. Só no dia seguinte a meio da tarde, embarcaríamos no Sea Plane até à ilha do resort.
No dia seguinte acordei com o tão desejado calor tropical do qual sentimos tanta falta na Escandinávia. O quarto estava quente, ouvíamos as ondas na praia, o sol a brilhava pela janela. Engoli o pequeno almoço, coisa que não agrada ao Peter Pan, e atravessámos a rua para sentir imediatamente a areia nos pés.
Magnífico, esplendoroso, de perder a respiração. Não consigo escolher uma palavra para definir o quão bonita era a água transparente e tão calma, a areia tão clarinha que quase branca, e sem qualquer outra coisa ao alcance da vista se não a cor azul, o azul do céu e do mar que se juntavam bem lá ao longe.
Sou de nós os dois quem mais gosta de sol, de praia, do calor, e claro que tirei imediatamente o vestido e corri para a água. O Peter Pan pôs-se à sombra de uma palmeira, uns metros atrás de mim, de t-shirt e cheio de afrontamentos. A reclamar do calor e de lhe terem perdido a mala e não ter consigo calções de banho (algo que resolvemos mais tarde). Não podia molhar os calções que tinha vestidos pois seria com os mesmo que iríamos viajar dali a umas horas.
Mas eu ia aproveitar, até porque tinha trazido mais bikinis e vestidos do que realmente precisava e queria dar-lhes uso. Viajei para as Maldivas para aproveitar ao máximo, não para estar enfiada no quarto com o ar condicionado ligado.
Entrei dentro de água até à altura dos joelhos e comecei a aperceber-me que estava ali qualquer coisa estranha. Havia mais turistas na praia, não muitos, mas absolutamente ninguém dentro de água.
Estava informada da existência de tubarões nas Maldivas e ponderei que fosse essa a razão. Mas não fazia sentido, a água estava demasiado calma e transparente, tendo-se total visibilidade sobre o que estava à nossa volta.
Muito intrigada, resolvi sair da água e sentar-me na areia em frente ao mar, a tentar encaixar a peça que faltava no puzzle. Quando me sentei, entraram alguns rapazes locais para dentro de água completamente descontraídos. E eles melhor que ninguém saberiam se era seguro ou não, nadar ou estar ali. Mas – mais uma vez – apenas locais, nada de turistas.
Perdida entre pensamentos a tentar adivinhar hipóteses para a situação, ouço um assobio.
Olho na direcção para onde o Peter Pan estava sentado, e vejo que está acompanhado por um polícia.
“Veste-te!” – disse-me ele em tom ríspido, quase como que em tom de ordem a soar num momento de aflição.
Completamente confusa, enfio o vestido pela cabeça a baixo o mais rápido que o corpo suado me deixa. Consigo ouvir o Peter Pan perguntar se era permitido ele estar sem t-shirt, ao qual a resposta foi: “Tu podes, ela não.”
Já de vestido, e atordoada com a situação, ainda tenho tempo de ver o polícia dar-me um último olhar de reprovação e continuar o seu caminho.
O que acontece é que a nudez (estar de bikini por exemplo) é ilegal fora dos resorts, uma vez que as Maldivas se regem pela lei corânica. Abreviando a coisa: eu podia ter sido presa. E o meu bikini, foi o suficiente para activar o alarme. Eu. Mulher. De Bikini.
E se eu tivesse sido presa por nudez pública na nossa lua de mel de sonho nas Maldivas? Que sina…
Vá lá que a história acabou em bem, e a única coisa consequência da coisa foi apenas um olhar fulminante e a imagem de vadia com que esse polícia ficou de mim.
Umas algemas cinza não iam combinar nada bem com a minha nova aliança de ouro.